Construir competências desde a escola

Fonte: Shvoong.com
A abordagem por competências considera os conhecimentos como ferramentas a serem mobilizadas conforme as necessidades, a fim de que se possa resolver determinadas situações-problema apresentadas na escola, no trabalho e fora dele. É, pois, a capacidade de agir eficazmente em um determinado tipo de situação, apoiada em conhecimentos, mas sem limitar-se a eles. Nesse caso, importa destacar que desenvolver competências na escola não leva à renúncia das disciplinas de ensino. Ao contrário, as competências mobilizam conhecimentos dos quais grande parte é e continuará sendo de ordem disciplinar, porque são as disciplinas que organizam tanto o mundo do trabalho como a pesquisa.
Assim, quando se trata de um currículo (e portanto uma educação) voltado para o desenvolvimento de competências significa que essa abordagem está centrada na ação: os conhecimentos se constituem em recursos, freqüentemente determinantes, para identificar e resolver problemas, para preparar e para tomar decisões. A transferência de conhecimentos ou sua integração em competências não são automáticas e passam por um trabalho, isto é, um acompanhamento pedagógico e didático sem o qual nada ocorrerá, a não ser para os alunos com grandes meios para isso. O exercício da transferência faz parte do trabalho regular da escola.
Tratando-se de um ensino por competências, o problema da transferência de conhecimentos pode ser resolvido, já que, muitas vezes, a escola não tem a preocupação de relacionar o que se aprende durante a escolaridade, os conhecimentos disciplinares aprendidos às situações da vida. A transferência e a mobilização das capacidades precisam ser treinadas, e isso exige tempo, etapas didáticas e situações apropriadas, que hoje não existem.
Há que se refletir, pois, a respeito da seguinte questão: Para resolver uma situação cotidiana ou escolar, a que disciplinas, prioritariamente, pode-se recorrer? É preciso ressaltar que há situações cujo domínio encontra seus recursos, essencialmente, em uma única disciplina; há situações cujo domínio encontra seus recursos em várias disciplinas identificáveis: é o caso de muitas situações vivenciadas fora da escola.
Por outro lado, existem situações cujo domínio não passa por nenhum conhecimento disciplinar – exceto o da língua materna, que preexiste ao seu ensino. Portanto, é relevante descobrir: Para quais disciplinas escolares apela-se ao organizar um casamento ou adestrar um cão? A resposta indica que a escola só pode preparar para a diversidade do mundo trabalhando-a explicitamente, aliando conhecimentos e savoir-faire a propósito de múltiplas situações da vida de todos os dias.
Transformar uma casa, conceber um habitat agrupado, criar uma associação, encontrar e seguir um regime alimentar, comprar mobília, dar a volta na Europa com pouco dinheiro, proteger-se da AIDS sem encerrar-se em casa, encontrar ajuda em caso de conflito ou depressão, estar na moda sem estar alienado... e outros tantos problemas diante dos quais os indivíduos encontram-se desprevenidos, por falta de conhecimentos e, sobretudo, de métodos, de treinamento na resolução de problemas, na negociação, no planejamento ou simplesmente na procura de informações e de conhecimentos pertinentes.
A abordagem por competências propõe, então, como ideal, dedicar mais tempo a um pequeno número de situações complexas em vez de contemplar um grande número de assuntos que devam ser percorridos rapidamente, para virar a última página do manual, no último dia do ano letivo. A mudança passa pela diminuição do peso dos conteúdos disciplinares e uma avaliação formativa e certificativa, orientada claramente para as competências.
Dessa forma, não se pode ensinar por competências conhecendo-se, na volta às aulas, o que será tratado no mês de dezembro, pois tudo dependerá do nível e da implicação dos alunos, dos projetos implementados, da dinâmica do grupo-aula; isso significa que cada problema resolvido pode gerar outros. Nessa concepção, o aluno tem direito a ensaios e erros e é convidado a expor suas dúvidas, a explicitar seus raciocínios, a tomar consciência de suas maneiras de aprender, de memorizar e de comunicar-se. Pede-se a ele que, de alguma maneira, em seu ofício de aluno, torne-se um prático-reflexivo.
Em contraposição a uma situação comumente percebida em que os alunos acumulam saberes, passam nos exames, mas não conseguem mobilizar o que aprenderam em situações reais. Nesse sentido, as competências que os alunos devem construir representam uma escolha da sociedade.
Tendo por base os conhecimentos, a descrição de competências deve partir da análise de situações, da ação. É preciso, por conseguinte, reconstruir a transposição didática, que é a transformação de um conhecimento científico em conhecimento escolar.
Finalmente, para desenvolver competências é preciso trabalhar por resolução de problemas e por projetos, propor tarefas complexas e desafios que incitem os alunos a mobilizar seus conhecimentos e, em certa medida, completá-los, o que pressupõe uma pedagogia ativa, cooperativa, aberta para a localidade.
Nessa perspectiva, o trabalho escolar ganha sentido porque modifica a relação com o saber dos alunos em dificuldade; favorece as aproximações construtivistas, a avaliação formativa, a pedagogia diferenciada, que vai facilitar a assimilação ativa dos saberes; coloca os professores em movimento, incentivando-os a falar de pedagogia e a cooperar no quadro de equipes ou de projetos do estabelecimento escolar.
Em última análise, o ensino por competências tem implicações para o ofício de docente, tais como:
  • considerar os conhecimentos como recursos a serem mobilizados;
  • trabalhar regularmente com problemas;
  • criar ou utilizar outros meios de ensino;
  • negociar e conduzir projetos com seus alunos;
  • adotar um planejamento flexível e indicativo e improvisar;
  • implementar e explicitar um novo contrato didático;
  • praticar uma avaliação formadora em situações de trabalho;
  • dirigir-se para uma menor compartimentação disciplinar.